quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Locke

Direção: Steve Knight
País: Reino Unido
Ano: 2014




 “A soma das sombras é proporcional à soma das luzes, e quanto mais forte é a obscuridade que se vê, mais esplendor tem a luz.” (Leonardo da Vinci)


Steve Knight, conhecido por ser roteirista de Senhores do Crime (filme de Cronenberg , 2007), começou a se aventurar na direção cinematográfica em 2013 com o filme Redenção (Hummingbird), onde não obteve grande êxito em uma estória rasa de “lutinhas” no estilo Jason Stathan, seu protagonista. Este ano, seu novo trabalho chama atenção pelo ator principal Tom Hardy, conhecido por interpretar Bane na Trilogia “Batman: O Cavaleiro das Trevas” e por seu excelentíssimo papel em Bronson (Dir.: Nicolas Refn, 2008), filme que lhe rendeu uma das melhores atuações da história do cinema contemporâneo.

Na trama temos Ivan Locke (Tom Hardy) dirigindo um carro durante a noite em uma pista rápida nas proximidades de Londres. Ele trabalha para uma concreteira, que está para fazer a maior entrega de concreto dos EUA para a Inglaterra. De dentro de seu carro, ele utiliza seu celular acoplado ao radio do automóvel para se comunicar com seus funcionários, com sua esposa, filhos e outros contratempos que vai encontrando no caminho.

Todas a estória é contada por um roteiro criativo, através dos diálogos que Ivan tem com as pessoas por telefone. Todas as cenas se passam dentro do carro, por intermedio da bela interpretação do ator, e criativos e milaborantes planos que o diretor bolou para não tornar o longa metragem monótono, utilizando reflexos dos espelhos e dos vidros, misturando luzes de semáforos e da rede pública da autopista.



Locke passa por situações de extrema emoção e precisa ter pulso firme para aceitar sua realidade atual, contando apenas com a tecnologia; enquanto dirige ele resolve problemas familiares e do trabalho, desenvolvendo bem todos os personagens envolvidos, em uma metáfora da sociedade atual e do quanto nos tornamos onipresentes através de nossos telefones megalomaníacos, tornando o tempo cada vez mais curto e, a exigência de nossas respostas rápidas é um dos grandes pontos fortes do filme.

Em um momento onde o cinema de massa apela para efeitos especiais e cenas de grande impacto imagético, Steve Knight busca a essência do “contar estórias”; se na antiguidade o homem usava a sombra de suas fogueiras para representar seus personagens nas paredes de suas cavernas, aqui, o diretor usa de artifícios minimalistas, relaxa a retina do espectador com efeitos cromáticos dos reflexos no carro e incita sua imaginação.          

Gustavo Halfen  

sexta-feira, 16 de maio de 2014

Godzilla

Direção: Gareth Edwards
País: EUA, Japão
Ano: 2014




Nos anos 1950 no Japão, o país estava devastado pela 2ª Guerra Mundial e vivendo intensamente os horrores causados pelas bombas atômicas de Hiroshima e Nagasaki. A censura ocidental impedia os japoneses de produzirem um filme mostrando os horrores causados pelos estadunidenses; com isso surgiu a ideia de Godzilla; um monstro gigantesco mutante em virtude de testes nucleares, que por onde passa deixa medo e destruição.

Em 2013, o diretor Gareth Edwards, já familiarizado com o tema, por seu filme Monsters (2010), é chamado para dirigir o novo Godzilla. O grande desafio deste filme era utilizar a metáfora do ataque nuclear sofrido em 1945 no Japão, homenagear o filme original de 1954, trazer a temática para a atualidade e ainda produzir um blockbuster.

Edwards não só conseguiu este feito como teve a perspicácia de lembrar-nos do acidente em Fukushima em 2011, onde um terremoto de 8,9 pontos na escala Richter, causou um tsunami que abalou as estruturas da Central Nuclear de Fukushima I, provocando vazamento de radioatividade e contaminando a água do mar.

Na trama uma usina nuclear no Japão é destruída por um abalo sísmico desconhecido que causa um tsunami, onde toda a cidade é abandonada devido ao vazamento radioativo. Quinze anos depois, terremotos com o mesmo comportamento voltam a assombrar a superfície da Terra e logo se descobre os gigantes monstros que vêm assombrar a tranquilidade do ser humano.

O diretor não julga Godzilla e seu inimigo natural como seres malévolos, mas sim como seres naturais em sua cadeia alimentar, como o ser humano e as formigas, que as pisa e não sente remorso. Ele demonstra seus tamanhos em movimentos lentos, respeitando suas escalas, e vai expondo Godzilla através de silhuetas e sons que na sala de cinemas com sistema ATMOS cria um hiperrealismo impressionante; aliás o cuidado com o som foi um dos principais impactos desse longa metragem, que deve ser visto com sistema próprio para tal. A trilha sonora referencia, e muito, as músicas de filmes de suspense e terror dos anos 1950, o que nos trás uma nostalgia ainda maior ao ver Godzilla rugindo.

Godzilla não poderia estar em melhores mãos que de Gareth. Seu longa nos põe em perigo, fragilidade e medo, nos lembra do nosso passado assombroso e diverte, como todo bom filme.

Nos melhores cinemas!!

Gustavo Halfen

terça-feira, 8 de abril de 2014

12 Anos de Escravidão (12 Years a Slave)

Direção: Steve McQueen
País: EUA, Reino Unido
Ano: 2014




Em 2008, quando o diretor Steve McQueen estreou na direção de longas metragens com o filme Hunger, ficou claro que ali estava por vir um grande mestre na arte de dirigir. Hunger foi visceral, intenso e sem sensacionalismo. Um filme com uma crítica social atual sobre os valores morais que a Irlanda vivia na época. Em 2011, McQueen lança Shame, que assim como Hunger teve as mesmas características de assinatura do diretor; intensidade, arte pela arte, brilho e uma temática polêmica, que no caso foi compulsão sexual. Porém até o momento não se ouvia grandes elogios ao diretor. Foi quando ele começou a dirigir um longa em terras hollywoodianas, e mantendo uma temática forte: a escravidão nos EUA.

12 Anos de Escravidão conta a estória de um negro ex-escravo que vive de forma livre após conseguir sua carta de alforria. Não demora em que ele seja sequestrado e trabalhe de escravo ilegalmente pelos 12 anos do título. Baseado no livro autobiográfico de Solomon Northup, protagonizado por Chiwetel Ejiofor.

Confesso que quando soube que “12 Anos...” ganhou o Oscar de melhor filme este ano (2014), fiquei com um pé atrás. Pois os dois primeiros filmes de Steve McQueen, embora perfeitamente técnicos e sensíveis, não eram o tipo de filmes para Oscar, e sim, para festivais menos populares, embora até melhores; devido ao seu caráter não comercial. E fiquei curioso de saber como o diretor conseguiu driblar a “Academia” para chegar em tal podium.



O elenco, que conta com mestres da atuação na atualidade (M. Fassbender, Paul Dano, Benedict Cumberbatch), faz o seu papel de forma esplêndida, com exceção do ator principal, Chiwetel Ejiofor, que não muda sua expressão facial pelas 2 horas do filme. O visual do filme, os planos e todo o ambiente da região sul dos EUA é filmado de forma belíssima como que fosse uma forma de relaxar os olhos do espectador, que só vê desgraça na vida de Solomon. Porém a estória de Solomon é monótona e repetitiva para uma adaptação (quase) fiel ao cinema. Solomon é sequestrado e escravizado e, claro, só isso já bastaria de sofrimento, pois como disse meu colega crítico de cinema Rodrigo Ramos em relação à escravidão: “Nada, nenhuma palavra, nenhuma ação, nenhuma bolsa família ou cota de faculdade será capaz de reparar os erros grotescos do passado.” Porém nos dias atuais, poucas coisas nos chocam como antigamente; o próprio Mel Gibson ao justificar a violência exacerbada de seu filme A Paixão de Cristo (2004), cita, que cada vez mais temos que exagerar na violência em um longa metragem para que consigamos passar a sensação vivida na cena. E, é exatamente isso que falta em “12 Anos...”. O espectador fica esperando as coisas se desenrolarem no filme, porém pouco acontece. Até mesmo o próprio plano sequência de uma cena de tortura em uma escrava, chega a ser mediano. E o final do filme possui um desfecho sem graça e com atuações medíocres, o que tornou tudo muito vago no longa de Steve McQueen.

No ano anterior, outro longa com a mesma temática foi lançado, Django Livre, que apesar de possuir uma outra forma de linguagem, exibindo violência gratuita, ele consegue ambientar e trazer a nossa realidade o sofrimento que os negros passaram no passado, além de toda a questão de vingança que o público que ver na tela.

Outros filmes muito melhores mereciam o Oscar esse ano e, os próprios longas anteriores de McQueen, também mereciam. Assim como o Oscar, Steve McQueen já foi melhor.

Gustavo Halfen

sábado, 11 de janeiro de 2014

Ajuste de Contas (Grudge Match)

Direção: Peter Segal
Ano: 2014
País: EUA



Ao sair da sessão de imprensa do filme “Ajuste de Contas”, ouvi um dos críticos declamar as seguintes palavras em relação ao filme assistido: “Putz cara, eu não sabia que eu queria tanto ver isso...”. A sensação de nostalgia nas palavras deste estranho sábio, resumiram basicamente o sentimento que todos vão sentir ao sair do cinema após “Ajuste de Contas”.

Na trama, temos em conflito, dois boxeadores aposentados que eram rivais nos anos 1970; Henry Razor Sharp, na pele de Sylvester Stallone e, Billy The Kid McDonnen, na pele de Robert De Niro. Ambos foram campeões de boxe, e só perderam uma luta um contra o outro, e a terceira luta de desempate nunca aconteceu. Porém, é chegada a hora da decisão.



É inconcebível olhar para o poster deste filme e não imaginar o duelo utópico entre Rocky Balboa e Jake La Motta, ambos mestres do boxe movie nos anos 1970. Ao início do filme, temos um resumo do passado dos boxeadores, mostrando em manchetes de tv e capas de revistas, excelentes montagens dos atores hoje “velhacos”, em plena forma, posando para fotos, inclusive flash de suas lutas a trinta anos atrás. O longa debocha de forma escrachada da decadência do homem e suas barrigas salientes, te fazendo rir com detalhes sutis de ambos os atores, agindo de formas contrárias. De Niro é beberrão e irresponsável, está sempre feliz e pronto para o próximo trago. Stallone mantêm-se o “Garanhão Italiano” tímido e centrado, porém com algumas mágoas guardadas no passado. Aos amantes da comédia pastelão, temos o ator Kevin Hart  no papel de Dante Slate Jr, o promotor (vamos assim dizer) de ambos os lutadores, que como em outras comédias, brinca com os costumes e conflitos entre o homem branco e negro.

Por fim, “Ajuste de Contas” é um filme fetiche, para os amantes deste esporte apaixonante que é o boxe, e mistura duas feras de Hollywood, que se divertem zombando uma da outra, além de ironizar a moda das lutas de MMA e a tecnologia exacerbada utilizada pela juventude atual.

Estreia dia 10 de janeiro de 2014, nos melhores cinemas!

Gustavo Halfen