quinta-feira, 4 de julho de 2013

Laurence Anyways

Direção: Xavier Dolan
País: Canadá, França
Ano: 2012




Em seu terceiro filme, Xavier Dolan, de 23 anos, já desponta sua carreira como diretor, em um filme que merece análise tanto pela estética como pela estória.

Laurence (Melvil Poupaud) é um homem que está quase chegando aos 40 anos de idade, vive um relacionamento intenso com sua namorada Fred (Suzanne Clémment), neste momento determina que não existe mais possibilidade de ele viver como homem. Assim Laurence decide vagarosamente transformar-se em uma mulher, não por ser homossexual, mas sim por uma questão de gosto, pois sua atração pelo sexo oposto não muda, mas isso causa um tremendo impacto no seu relacionamento amoroso, familiar e profissional.

Ao início do longa, vemos cenas através dos olhos do protagonista sendo observado de cima à baixo pelas pessoas na rua, nos dando uma breve sensação da abordagem do filme de Xavier Dolan. A homossexualidade é uma temática carimbada nos filmes do diretor, homossexual assumido, ele trabalhou este tema em “Eu matei minha mãe” (J'ai tué ma mère, 2009), que trata de um adolescente homossexual e sua conturbada relação com a mãe; e Amores Imaginários (Les amours imaginaires, 2010), onde um casal de amigos se apaixona por um mesmo garoto; e agora, em um roteiro desenvolvido pelo mesmo, ele entra em um campo que está sendo inicialmente discutido na sociedade: a transexualidade, mudança de sexo por efeito hormonal e cirúrgico; além do choque do individuo para com a sociedade. É interessante observar a relação do casal, no filme, onde a questão sexual é discutida, chegando à beira do colapso entre ambos, pois para Fred, não é difícil aceitar os ideais de Laurence, mas sim o fato de viver e se relacionar sexualmente com um trans, ou melhor, uma mulher.



Laurence Anyways possui duas horas e quarenta minutos de duração, e embora soe cansativo, nada ali desmerecia estar na tela, pois além da estrutura dramática bem montada, a questão estética é extremamente importante no filme. O uso de cores fortes e femininas fazem parte da temática, mas é impossível não notar os takes do longa, e o uso abusivo de figuração caricata e gótica, penteados coloridos, roupas douradas, perucas extravagantes e homens que se parecem com mulheres e vice-versa, contrastando com o visual nada exagerado do protagonista que no fim parece ser o mais normal entre os personagens. Isso, sem contar da dramatização visual apoiada pela trilha sonora ora clássica, ora pop, e o uso exagerado de câmera lenta. Relevante observar também a transformação nos penteados da linda Suzanne Clémment que com o passar da década (o filme inicia-se em 1989 até os anos 2000) seu visual torna-se cada vez mais notável, mérito de Dolan, que além de assinar o roteiro e direção, também faz o figurino.

Por fim, além de ser um filme como um tema social e um tanto político, Laurence Anyways é importante pela sua estética surreal, criando um universo à parte, e desconstruindo o visual oitentista e noventista conhecido pelo publico pop. Observar a caracterização do cenário e do figurino do filme, faz-se essencial e fetichioso, e um aprendizado para àqueles que simpatizam com essa nova forma de interagir com o mundo. Um mundo onde as transformações estéticas estão cada vez mais impactando os mais conservadores, que já nem conseguem discernir gêneros.



Gustavo Halfen

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